quarta-feira, 30 de setembro de 2009

VmpraKzaQaGnTtárrumando

Casa Aberta em ex-posição

A casa recebeu uma visita
que tem em vista uma reforma da casa

por essa via
sai gente sai cachorro sai horta saem coisas

quem causa?
tempo de estar lá essa semana.
essa semana
essa semana

fica o som da palavra "última"
8135-5201

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Como piratas e enfermos - de rugas e hormônios, das máscaras em nós (.5)

"Como é que a cura pode provocar esse abjeto desejo de ser amado, esse desejo histérico e choramingão que nos faz ajoelhar, deitar no divã, ficar quietos e esperar?"

Certa vez, disseram a um pirata que se um nômade possui um hábitat, só pode ser o deserto. A que deserto estariam se referindo, afinal? Àquele noturno, de frio extremo? Àquele diurno, de calor avassalador? Àquele que faz do corpo ali imergido infindáveis léguas de vazio? Àquele em que o silêncio inexiste? Àquele que faz da fome um sintoma secundário frente às convulsões desesperadas ou eufóricas de quem vê vastidão por todos os lados? Àquele que embrutece, ameniza, envelhece, precariza, rejuvenece, estigmatiza? Que não tem fronteiras e torna muito tênues os limites entre a densidade e a sutileza? O deserto, agora, presente em cada passo... a cada passo, um deserto. Sob o asfalto está a vida.

Há ainda quem se assusta diante daqueles que desmantelam as contruções imaginárias da distância num esforço voltado para encurtar as metragens. Piratas enfermos não querem ser adultos, tampouco querem ter de arcar com os papéis pré-construídos da juventude. São velhos quando querem ou quase sem querer, já que as tragadas do mundo primeiramente os envelheceu, desgaste que não consiste em mera escolha, mas que simplesmente acontece no acordar compulsório de todos os dias. São jovens quando podem, uma vez que recuperar a vitalidade trucidada pelas escleroses rotineiras é algo que exige molejo e, mais ainda, potência canalizada. Uma juventude incapaz de tornar qualquer demanda perigosa é, a seu ver, completamente desnecessária, está morta. Pensar papéis revolucionários específicos para classes, idades, sexos? Mesmo que tudo já seja produto e circule em velocidades inimagináveis? Se o jovem de hoje é consumidor de primeira linha, cliente fiel que já não diferencia anseios fantasiosos de roncares de barriga? Na lógica do trabalho e do consumo isso não faz a mínima diferença.

São dilemas que apenas atestam algo já evidente: conosco e entre nós, um deserto ávido devorando, a todo momento, mediador e consistência de vida e morte em organismos frágeis, mas nem sempre tão frágeis. Como crises ambulantes, enfermos são, em muito e como muitos, também deserto.

Quem são os que miram o horizonte e perguntam o que a “molecada de hoje” tem feito para gerar novas perspectivas? Por sua resposta sempre contar quantos tostões foram gastos, entendamos a arapuca em que se resume a pergunta. Pode-se sugerir que respostas estejam por trás do tom irônico das gerações falidas. Velhos não suportam o fato de que a molecada herdou deles o espírito resignado necessário à sobrevivência pacífica, o mofo contido nas suas exigências passadas, e agora somente confirma que “algo venceu”. Ora, quem dita as regras dessa guerra silenciosa e cheia de negociatas tão distantes de nós? A criança está na creche e o velho foi trabalhar. Tudo na normalidade. Diante de nossas más caras, algo cheira a podre. Por trás de nossas máscaras, NÓS SOMOS VOCÊ!

domingo, 30 de agosto de 2009

Como piratas e enfermos - entre ideólogos e andarilhos, um abismo (.4)

"A minha causa não é nem o divino nem o humano, não é o verdadeiro, o bom, o justo, o livre, o cultural, o artístico, o moral, etc, mas exclusivamente o que é meu. E esta não é uma causa universal, mas sim... única, tal como eu."


Após tanta fraude e impostura, é reconfortante estar onde está um enfermo. Ele ao menos não engana aos outros nem a si próprio: seus princípios, se é que os têm, são encarnados; não gosta do trabalho e demonstra-o; como nada deseja possuir, cultiva o seu despojamento, condição de sua “liberdade”. O seu pensamento resolve-se no seu ser, e o seu ser no seu pensamento, a soma de suas relações. Falta-lhe tudo, é ele próprio, dura: viver imediatamente a eternidade é viver em um só dia. Por isso, para ele, os outros são presa da ilusão, mas de uma ilusão que contudo não é sua. Se depende deles, vinga-se observando-os, atento e conhecedor que é quanto ao reverso dos sentimentos ditos “nobres”. Piratas têm o olho furado, mas enxergam como corujas com o olho que lhes resta. Com os olhos que lhes restam, é melhor dizer. Enquanto muitos dormem, enfermos têm insônia, vale lembrar. A sua preguiça, de qualidade muito rara, faz de um pirata enfermo um ser fortemente “liberto”, perdido num mundo de gente tola e iludida. Vive a renúncia para além de qualquer obra esotérica (leia-se filosófica) que se valha. Para que vocês confirmem isso, basta saírem à rua. Mas não! Preferem os textos que falam sobre as ruas ou que pregam as enfermidades. Como nenhuma conseqüência prática acompanha as suas libertações, podemos dizer que o último dos seres errantes que ainda exista decerto faça algo mais do que vocês. Insurjem-se contra a generalização dos misticismos ocos, contra aqueles que, escorados numa doutrina que não emana do fundo da prática vivida ela mesma, ostentam a sua pretensa “salvação”. Desmascará-los, fazê-los descer do pedestal a que se alçaram, eis uma campanha à qual ninguém deveria ficar indiferente. Porque é preciso, a todo preço, impedir de viver e morrer em paz aqueles que têm a consciência excessivamente tranqüila.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Somos Sudakas II


Esta iniciativa pretende gerar espaços de reflexão crítica ante os processos de integração latino-americana e as políticas de desintegração; a fim de expor as sensações pessoais e coletivas, re-significando assim, as identidades e os sensos de pertencimento e resistência dos países latino-americanos.

Antecedentes:

Estes encontros surgiram em Bogotá Colômbia, orientados pelo Colectivo Red-acción. Após levaram essa iniciativa para La Paz Bolívia (outubro de 2008), na Assembléia Permanente de Direitos Humanos. Esse coletivo, em parceria com a Casa Aberta (SP), abriu um primeiro espaço de discussão: “Somos Sudakas I” em 12 de junho de 2009.

Convite:

Convidamos tod@s @s interesa@s para expressarem suas sensações e sua “latinoamericanidade” através da presença, de escritos, poesias, ensaios, desenhos, filmes, documentos e documentários, comida, música, dança, performance, instalações, instrumentos, e qualquer expressão que queira interagir.

Programação:
Domingo 30 de agosto

10h: Desayuno
• Construção do mural: “Nuestro norte es el sur”
• Atividade: “Tecer uma nova suramérica”
• Jogos do mundo

12h: Almoço com filmes

15h: Charlas!! Debate-papo
• Impunidade, direitos humanos e restauração social na A. Latina
Hector Guerra Hernández (Chile)
• Trabalho livre e trabalho escravo na A. Latina
Carlos de Alameida Toledo (Brasil)
• Intervencionismo, integração, movimientos sociais e resistência.
Ximena Rivera Bryón (Colômbia) (Casa Aberta e Red-acción)

A noitinha: Sarau Sudaka
Todos nos!!!!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Como piratas e enfermos - essa crise que perambula (.3)

“As flores nascem e morrem
O vento traz borboletas ou neve
A pedra nem percebe ”


Que crise é esta em cujas projeções nos querem insistentemente fazer crer mediante o terror de que estamos prestes a perder tudo? Piratas enfermos são a própria crise instaurada se disseminando de rincão a rincão. Inquietudes enterradas a fundo na subjetividade. Bancarrotas globais e vírus assombrosos. Aquela paranóia imprescindível que aponta e faz estardalhaço, grita que temos coisas a perder. Piratas enfermos, persistimos num lema que reconhecemos ser bastante frágil: a crença infalível no que os dias proclamam é igual à resignação diante da opacidade dos discursos vitoriosos. Que as batatas se caiam aos que anseiam pela vitória. Piratas enfermos não perdem nada, uma vez que não pleiteiam as vitórias. Dizem que a crise é um fantasma que entretanto se faz efetivar, tem sua materialidade nos dias. Têm da crise a vaga impressão de que, mais uma vez, estão sendo alvo de um embuste. Fábulas rasas. Por serem eles próprios esta crise, voluntariamente se corrompem e declaram crise ao que não floresce. De uma vez por todas, piratas deixam de lado a autoperfeição e perseguem a decadência, ao contrário do que prometem os fundamentos obtusos das hierarquias. A decadência segue abaixo – ou a qualquer sentido. Só se pode ressurgir após o desastre? Tirar forças da crise? A crise já é a força, não tem semblante e está em nós. Quando o “mundo” assume extensões inalcançáveis, é seu, desses renegados débeis que vagam, o mundo que se reduz em perspectiva. Viver crises situadas fora de cada qual compele a ser tão-somente sobrevivente entediado como parte da vida sucateada que a maré moderna concede. Para enfermos, não acreditar em nada consiste em se pôr frente a frente consigo e ver se o que se apresenta pode realmente não ter rosto e, sem uma causa plausível, sentir.

À pergunta de como foi seu dia hoje, replicam com ênfase nas nuances: como tem sido tua vida justo agora?

Não há mágica que banque isso.

domingo, 23 de agosto de 2009

Como piratas e enfermos - uma enfermidade: ganas de pulsar (.2)

São enfermos, pois herdeiros de um pressuposto cultural que aos poucos se esfarrapa e revida suas dissidências com os recursos do isolamento, da doença, das promessas, dos tiros e cassetetes, dos ferros quentes e das felicidades pré-fabricadas. Enfermos pois desencantados. Enfermos, portanto perigosos. Enfermos pois por demais pacíficos. Enfermos pois desejantes. Enfermos pois conspiradores de tragédias mórbidas em antros festivos sem muitos limites. Enfermos pois ansiosos por algo mais substancial que a morbidez mesma. Enfermos pois promíscuos, nem homem nem mulher nem feminino nem masculino. Enfermos pois esteticamente desajustados. Enfermos pois acordam e se alimentam em horas ou ocasiões pouco esperadas, de uma maneira um tanto “esquisita”. Enfermos por estarem aborrecidos. Enfermos por verem algo mais numa casa caída, morta e desvivida. Enfermos pois escolhem tirar os pés da história quando da urgência disso. Enfermos por não portarem convicção histórica. Enfermos pois todo tipo de convicção histórica exala o cheiro podre das ideologias. Enfermos por encontrarem também na solidão um estímulo de riqueza comparável às coletividades construídas. Enfermos por viverem a coletividade sem um compromisso lógico para isso. Enfermos por viverem a coletividade com fluidez e dela extraírem motivações e experiências profundamente festivas. Enfermos pois escolhem o momento para conspirar e a hora de declarar o conflito. Enfermos pois fazem de cada festividade uma possível orgia que grita a todos os cantos. Enfermos por não terem lugar e viverem, por conta disso, o incômodo e a suavidade de todo ser nômade. Enfermos por fundarem, a partir de um não-lugar qualquer, o não-centro de seus murmúrios secretos, de suas declarações perante o mundo, de suas modorras proclamadas, de seus escapes ociosos, de seu esforço braçal, de suas inspirações vitais. Enfermos por não se pretenderem de modo algum à organização imediata e demandarem, antes de tudo, por algo que seja orgânico e capaz de trocar irrestritamente com os universos que os circundam. Por não se pretenderem aos pontos grandes e invisíveis. Por partirem sobretudo do que é seu agora. Enfermos pois não é preciso que haja problemas em se estar satisfeito com nada. Por terem como causa a causa de nada, e ainda assim se moverem desvairados por qualquer quebrada ou em prol de qualquer coisa, sem um “aonde” ou um “o quê” muito impenetrável. Por incorporarem a mutabilidade incontornável das coisas, como o organismo vivo que muda para estar vivo, que quer viver e vive mudando, inevitavelmente. Pois se apaixonam odiosamente e não há paradoxo qualquer nisso. Pois se apaixonar pode consistir em se sentir profundamente só ou em conviver em profundidade com tudo mais. Pois seus corpos se respiram e a pele é rasa. Pois não têm de estar definitivamente de acordo, hoje, com nada do que disseram ontem. Pois se perguntam onde está o “ontem” senão penetrado em seus corpos. Enfermos porque o oceano é de pedra, o movimento é labiríntico. Porque seus portos são abrigos de organismos transitantes. Porque seus abrigos são organismos transitantes através de um mar revolto de metal e cimento. Pois o mar é, por si só, uma loucura identitária afogada num turbilhão macro-paranóico. Enfermos pois sua “doença” é paranóica, tal como as bases mesmas dessa modernidade falida devem ser a cadeia de paranóias que são. Enfermos pois sabem que o moderno chega rápido e, num sopro, atropela tudo, travestido de campos de concentração ou objetos de luxo, trabalho ou entretenimento. Estranhos que são em cada lugar, em cada trincheira, em cada linha-de-fogo. Piratas pirateiam e trocam, já acordam com essa “doença” impregnada. “Doentes”, “perversos”, “criminosos sociais”, "apaixonados" – pois assim acusa a maré verticalizada e febril do asfalto e do concreto, do ferro e do fogo, do poder hierárquico e do trabalho assalariado que, por igual, valem no máximo sobreviver. Pois deve-se ser suficientemente amoral para decolar os pés do chão, para escolher em que momento fundar e demolir suas utopias, para ser declaradamente utópico e delirante assim que convir.

O que há de mais doentio nisso tudo, se os dedos que apontam e definem (como supostas autoridades) a anomalia estão distantes e não têm tempo de se olhar a si próprios? Se piratas não são nem desejam ser especialistas de patologias demasiado humanas e modernas? Piratas enfermos são “loucos” e especialistas em nada. Enfermos pois enfermidades não comportam “porquês” definitivos e isso pode tornar louco a qualquer um.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Há tempos não falamos... como está tu?

Ó, nós por aqui vamos felizes de mais, (des)arrumando a casa que a cada semana passa por transformações de tempo, espaço, gente e energia!

Fim do mês tem festa com banda e tudo
Vai ter um dia de cenas e sopas
Essa semana é de fazeção de jogos.

Os entulhos encheram caçamba e esvaziou-se a calçada, exalando ares de sono às estrelas.

Tomamos café fora, numa porta-mesa sustentada em cavaletes perna-aberta. Banhos nos dias de sol. Pinturas nas noites frescas. Bruxaria no fogo de paus engravetados.

Os eternos projetos de forno, chuveiro e telhado continuam sem entrar no papel.

Se cavarmos mais fundo as pedrarias do quital, se surpresa não houver surpresa criaremos. Um túnel que dá num pote de ouro inútil, cuja única função é dar luz ao arco-íris nos nossos olhos embebecidos de poças que a mangueira cria no barro. chás cafés cachaças. assobios da áfrica. telhas empilhadas viram refúgio de caracóis engaiolados nas suas próprias casas protegidas.

É c'asa que voamos.

Eu acredito em fadas
e sibitos